17 de set. de 2007

Cult ou kitsch?

O cinema em Santos passa por um estado de regressão. Se começou adulto e ‘cabeça’ com as enfumaçadas sessões no Cine Glória, chapadas de intelectuais, hoje vestiu a bermuda, virou a aba do boné para trás e assumiu sua porção adolescente e leviana – duas produções nacionais de apelo jovem que estréiam nos cinemas este ano e tem forte ligação com a cidade comprovam isso, ainda que uma delas ("Querô") esteja envolta pela aura do que se convencionou chamar de ‘cinema verdade’.

Apesar desse diagnóstico, a cidade ainda não deitou no divã para analisar o problema. A sunga verde-limão do personagem-blockbuster "Borat" (vivido por Sacha Baron Cohen) não deixa mentir: lá estava ela estampada até pouco tempo atrás no ‘templo’ do cinema de arte (dizem), o Espaço Unibanco. O que afinal é cult e adulto, o que é kitsch e aborrescente em Santos?
Prova maior aconteceu no fim de março, quando as salas foram tomadas de assalto pelo palavreado de malandro da classe média tão característico a Chorão, do Charlie Brown Jr., em sua primeira (e última, assim esperamos) empreitada pela tela grande, no suposto auto-biográfico "O Magnata". História da ascensão, medo e delírio dos abastados ao registro cinematográfico.

É o que a história nos conta sobre a vocação santista para o cinema, pelo menos para a contemplação dele, que evoluiu de tal forma a se tornar extensão da nossa gente. Assim ir ao shopping pede sorvete de casquinha do McDonald’s e a viagem à Roma, a bênção do Papa, sábado e domingo não são reais sem um pulo no Roxy para conferir o último enlatado americano a aportar por aqui.

Sinal dos tempos é que, na era do You Tube, o santista típico (aquele que freqüenta o circuito praia/shopping/cinema e tenta ir à academia) deixe de ser espectador e vire imagem fixa de fotograma ou byte no arquivo de filme digital.

Colaborador Julio Ibelli

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